Laboratório de Ensino:
Resenha Crítica: da leitura ao pensamento
de postura
Sabemos que o desenvolvimento do hábito de ler é um
dos objetivos principais da educação brasileira, que advém previamente da
apropriação devida da linguagem e da escrita.
Quem está acostumado a ler com frequência passa a
escrever bem, desenvolve o raciocínio, a articulação da linguagem e estimula a
imaginação e criatividade. Mas para que esse processo ocorra como o esperado, o
aluno em seu processo de formação precisa realizar algumas atividades de escrita,
sendo uma delas a capacidade de síntese de resumos, em particular, um resumo
com críticidade, que é a exposição da visão do autor do resumo sobre o filme ou
livro.
Baseado nessa temática, abaixo trazemos um artigo
que expõe o perfil do professor sob a ótica de Paulo Freire, e a contribuição
do ato de ler nessa formação:
Formação reflexiva
por: Bruna Nicolilelo
Entre 1995 e 1996, como diretora pedagógica do
Colégio Poço do Visconde, em São Paulo, tive o privilégio de travar discussões
sobre o planejamento, a avaliação e o processo de formação do professor
democrático com meu pai, o educador Paulo Freire (1921-1997). Ao longo dos
nossos encontros, discutimos o quanto seria importante ele escrever um livro
que fosse diretamente voltado à formação do professor. Por isso, ouso dizer que
a ideia da obra Pedagogia da Autonomia – Saberes Necessários à Prática
Educativa (148 págs., Ed. Paz e Terra, tel. 11/ 3337-8399, 10 reais) esteve
atrelada, em certa medida, a esses encontros. O fio condutor dos três capítulos
é o processo de formação do educador democrático, cujo objetivo, afinal, é a
conquista de sua independência, como também a do aluno.
A obra, a última de Paulo Freire em vida, é um
convite apaixonado e intenso a todo profissional que aspira ser um educador
crítico e autor do seu processo de formação. Ele deixa claro que os saberes
necessários à prática docente, problematizados ao longo do livro, estão todos
ancorados na sua forte convicção de que a Educação é um processo humanizante,
político, ético, estético, histórico, social e cultural. Por outro lado, esses
saberes denunciam a necessidade de o professor assumir-se um ser pensante.
Curioso, que duvida e faz da sua fala um aprendizado de escuta. Humilde, que,
embora se reconheça condicionado por circunstâncias sociais, econômicas e
culturais, não é um ser incapaz de gestar transformações. Competente, que
estuda, se prepara e tem o domínio do conteúdo que ensina. Por fim, generoso
consigo próprio para que o possa ser com o aluno. Em razão do meu envolvimento
nas discussões que levaram à produção da obra, recebi de meu pai um convite
para escrever o prefácio do livro. Infelizmente naquele momento, não fui capaz
de aceitar, pois não me sentia suficientemente preparada. Lembro-me ainda hoje
da forma generosa com a qual ele acolheu a minha incapacidade de dar conta do
desafio.
Anos se passaram e fui convidada a resenhar a
obra para NOVA ESCOLA, o que me permite escrever hoje o que não consegui
escrever ontem, tendo a chance, portanto, de ressignificar a experiência.
TRECHO DO LIVRO
“Na formação permanente dos professores, o
momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando
criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima
prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser
tal modo concreto que quase se confunda com a prática. O seu ‘distanciamento’
epistemológico da prática enquanto objeto de sua análise, deve dela
‘aproximá-lo’ ao máximo. Quanto melhor faça esta operação tanto mais
inteligência ganha da prática em análise e maior comunicabilidade exerce em
torno da superação da ingenuidade pela rigorosidade. Por outro lado, quanto mais
me assumo como estou sendo e percebo a ou as razões de mudar, de promover-me,
no caso, do estado de curiosidade ingênua para o de curiosidade epistemológica.
Não é possível a assunção que o sujeito faz de si numa certa forma de estar
sendo sem a disponibilidade para mudar.”
FÁTIMA FREIRE DOWBOR, autora desta resenha, é
pedagoga formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e
consultora pedagógica.
*Matéria publicada na
edição de maio da revista Nova Escola.
Após lerem a proposta escolar de Paulo Freire e a
exemplificação de resenha acima, questionamos: como vocês, futuros professores,
poderiam através do ensino de Ciências e Biologia, estimularem seus alunos da
escola básica a se tornarem mais reflexivos, dinâmicos e autônomos, para que
possam relacionar os conteúdos das disciplinas com a realidade atual em que
vivemos? – dica: pensem de forma a aplicar os conhecimentos teóricos adquiridos
nas discussões das disciplinas didático-pedagógicas.
Acadêmicos, não esperem as respostas prontas dos
professores. Ler é refletir sobre, é libertar a sua própria consciência, é ter
opinião e lapidar a personalidade. O aluno precisa exercitar a autonomia e na
Universidade tornar-se independente. Busquem os professores, por e-mail, nos
Departamentos, nas suas salas, perguntem, questionem, duvidem, corram atrás, e
nunca deixem de ler.
Por: Igor Ruan
Revisado por: Prof. Marina Comerlatto da Rosa
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